Novos Rumos: EUA


Há tempos venho querendo escrever sobre minha mudança para os Estados Unidos, mas é uma questão tão complexa e difícil de explicar que não sei bem por onde começar, mas deixe me tentar.

Eu adoro o Japão e os 8 anos que vivi lá passaram num piscar de olhos. O país me recebeu de braços abertos e me permitiu amadurecer e tornar independente. Mas apesar da constante progressão na carreira profissional, senti que outros aspectos da minha vida estavam sendo renegados.

A barreira cultural e linguística impunha um grande obstáculo diário. Com os amigos que fiz lá gradualmente se mudando para fora, as relações pessoais se tornaram escassas. Costumava trabalhar longas jornadas diariamente e as vezes até mesmo em finais de semana e feriados. Meu ímpeto artístico havia se deteriorado e senti que precisava resgatá-lo. Em suma, senti que havia atingido meu ápice pessoal dentro da sociedade japonesa e que se quisesse crescer mais teria que me mudar.

Assim comecei a pesquisar outros países. Viagem bastante nessa época. Fui a Itália, Nova Zelândia, Austrália e finalmente aos Estados Unidos.

A rede criativa

Em 2013, enquanto havia vivia em Tóquio, atendi a um evento sobre animação em Burbank (município em Los Angeles onde ficam muitos estúdios de animação, como os Disney). A CTN X é uma das convenções mais badaladas no mundo da animação, onde talentos da indústria se reúnem para troca de ideias e conhecimento. A sigla CTN representa Creative Talent Network, ou Rede de Talentos Criativos. O X vem de expo, exposição.

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Los Angeles

Passei 3 dias inteiros encontrando com artistas que admirava desde criança. Confesso que me senti intimidado a mostrar meus desenhos a profissionais do calibre da Disney, DreamWorks, Pixar e muitas outras gigantes. Tive que tomar muita coragem e respirar fundo antes de perguntar “você gostaria de ver meu caderno de rascunhos?”. Foi difícil mas por fim consegui.

Ouvi muitas coisas positivas sobre o trabalho que havia feito com ilustrações e desenho de personagens. E também muitas sugestões e dicas de como tornar minha arte mais atraente para os estúdios. Um artista em especial, Marcelo Vignali, me aconselhou: “vejo que você domina bem o desenho mas não tem treinamento em anatomia, composição e cor. Porém com o talento que você já possui aprende fácil. Com o mínimo de treinamento eu consigo te ver trabalhando na indústria rapidinho”.

A experiência dessa viagem me tocou tão profundamente que comecei a considerar deixar Tóquio para perseguir esse sonho. Mas não seria tão fácil assim.

Sayonara Tokyo

Mudanças grandes como a de deixar um país pelo outro demandam ponderação e prudência. Nos meses consequentes a minha viagem passei dia e noite estudando se valeria a pena deixar o conforto do ordinário para encarar o temível desconhecido. Ouvi conselho de amigos, conversei com os meus pais, assisti a video logs e ouvi entrevistas de pessoas que admirava e mesmo assim sofri para tomar essa decisão.

Quando deixei o Brasil em 2006 meus pertences eram o conteúdo de duas malas de viagem. Agora eu tinha um apartamento cheio de coisas que havia acumulado pelos anos. Livros, DVDs, roupas, eletrônicos, enfim uma vida que não poderia trazer comigo. O mais difícil porém foi me despedir das pessoas. As raras amizades que ainda estavam por perto, os colegas de trabalho e ao povo Japonês como um todo.

E foi assim que deixei a cidade e as pessoas que amava, como já fizera antes. Triste, de coração partido, mas esperançoso e confiante na minha decisão. “A volta para o Ocidente” é como estava encarando essa nova fase da minha vida. Meu futuro estava em jogo e eu queria estar pronto para encarar as oportunidades quando elas surgissem.

Hello, Los Angeles

Cheguei em Los Angeles da mesma maneira que cheguei a Narita, anos antes: sozinho, sem ninguém esperando no Aeroporto e carregando o mínimo de bagagem. Resolvi seguir o conselho do artista e me inscrevi numa escola de artes chamada LAAFA (Los Angeles Academy of Figurative Arts) num programa intensivo de treinamento.

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No Getty Center em 2014

Os EUA permitem que estrangeiros estudem no país sob certos requisitos. No meu caso entrei como estudante usando o visto M1, para escolas vocacionais. A vantagem desse tipo de visto é que ele é anual e pode ser renovado enquanto se estiver na escola. Porém ele não permite nenhum tipo de trabalho renumerado. Para tal atividade os vistos F1 e J1 são recomendados, mas infelizmente para a escola que escolhi eles não foram uma opção.

E foi assim que minha aventura na América começou. Na Cidade dos Anjos eu me estabeleci e iniciei minha readaptação ao Ocidente. 3 anos depois eu continuo por aqui, porém em outra cidade. Mas essa é uma história para outro post.

Espero que meus motivos tenham ficado claros para aqueles que se perguntam o que faz alguém mudar assim tão radicalmente. Obrigado pela leitura e até a próxima!

Fotos par moi

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