O último dia de uma ERA


bye

A era das fábricas na minha vida já ERA mesmo! Espero que para sempre. Essas fotos foram do último dia meu como dekassegui na Aisin Seiki . Por desígnio quase que divino eu consegui o trabalho que desde que cheguei no arquipélago estava procurando: trabalho leve, limpo e que acrescenta algo no meu currículo. Mas eu vou falar sobre ele depois.

Eu comuniquei aos empregadores, da fábrica e da empreiteira da qual era funcionário, que havia conseguido um novo emprego e que por isso estaria me desligando. Porém, ao pesar as coisas eu vi que eles haviam me facilitado muitas coisas, talvez por meu irmão ser empregado antigo da empresa. Por exemplo, me colocaram numa posição relativamente leve, num lugar onde não havia muito zangyou (hora-extra) e no mesmo horário do meu irmão, o que é raro de acontecer mesmo entre casais. Por isso não queria deixá-los na mão, saindo assim prontamente. Então resolvi avisar 2 semanas antes que sairia, era o máximo que poderia ficar.

Mas o pessoal ainda pediu para eu ficar mais 1 semana, até conseguir alguém. Então eu falei com meu novo empregador e ele consentiu, “o que é certo é certo” disse ele. E eu fiquei trabalhando normalmente como se não fosse sair, aliás, com um empenho um pouco maior para compensar minha “traição“.

last DAY

Esse é o shokudo, refeitório da empresa. Durante o dia eles servem dois carpádios variados: comida japonesa e comida brasileira. Sugoi né? Mas à noite só tem japonesa. Nada contra, mas nossa comida dá muito mais sustância para trabalhar. Na mesa os loucos que trabalhavam comigo.

Na última semana que trabalhei entrou um japonês para aprender meu serviço. O Toomei, um cara que aparenta ser mais velho do que é, talvez por sempre ter trabalhado em fábricas. Fiz minha parte cultural e ensinei ele a falar “entendi” e “só o pó” para se comunicar com seus novos colegas brazucas. Muito engraçado ver os japas falando gírias brasileiras.

Eu acho que mesmo saindo o pessoal da fábrica, os chefes japoneses não ficaram com raiva de mim., pois me encheram de hora-extra. Mandaram o japa embora mais cedo e me deixavam trabalhando uma ou duas horas a mais todos os dias. No começo eu achei que era o contrário, que era algum tipo de vingança me deixar trabalhando mais. Mas os japoneses pensam diferente, eles gostam de ficar a mais trabalhando. Se sentem importantes e fiéis à empresa. Quando entendi isso senti uma enorme gratidão por tudo aquilo. Mesmo xingando, hehehe.

Por tudo isso, quando bateu o sinal, eu resolvi ir agradecer ao chefe pela oportunidade e tudo mais. E foi muito engraçado pois ele ficou tão sem graça que não sabia nem onde enfiar a cara de vergonha. Os japoneses, pelo menos os da fábrica, têm muita dificuldade em lidar com emoções. Expressá-las ou recebê-las é sempre uma confusão para eles. O Guga disse que os japoneses trabalham 10 anos na fábrica e de repente, de um dia pro outro, não aparecem mais. Não falam nem até logo. Por isso eles estranham comportamentos assim. Não sei se é verdade, pode ser um caso isolado, só sei que aconteceu comigo.

De qualquer me despeço dessa vida, que não é fácil, mas é muito digna. Não posso reclamar do que tive na fábrica, pois lá aprendi muita coisa. Principalmente a suportar a vontade de largar tudo e voltar pra casa. Fiz muitas amizades e aprendi a ser mais humilde (um pouquinho só). Agora estou dando um passo para o escuro, mas na direção certa! O futuro é de quem luta por ele, certo?

Tomodati´s – Los amigos


crazy

Esses são os meus colegas de trabalho na fábrica. Já dá pra imaginar o pouco que agente apronta com os japas, né? É fácil reconhecer um brasileiro pois ele sempre está aprontando alguma. Ora jogando água nos transeuntes da fábrica com a pistola d´água, ora subindo nas bancadas e fazendo gestos não-muito-educados para outros colegas de outros departamentos que estão praticamente do outro lado da fábrica. Esses são: Katão, Gordinho, Fininho e eu… hehehe. Ainda faltou mais gente, como o “Glauber” e o Ezaki “velho”, pena que não bati foto de todo mundo.

Apenas para complementar o post anterior: apesar dos pesares, trabalhar como dekassegui numa fábrica de auto-peças como a Aisin teve suas compensações. Eu pude viver na pele a realidade da nossa gente aqui no exterior. E a maior lição que eu tive, mais uma vez, é que não há sensação melhor do que olhar para o lado e ver alguém que é como você, passou pelo que você está passando e de dá forças apenas por estar lá, conversando coisas bestas contigo. Em outras palavras, ver que você não está sozinho.

As mesmas dificuldades que passei, os mesmos medos e anseios, são comuns entre os novatos do Japão, não importando a idade ou origem. Estar longe de casa é realmente assustador, ainda mais quando se está o mais longe possível dela: do outro lado do mundo! E por sermos muito parecidos, inclusive pela descendência, fica fácil se entender e fazer amizades. Realmente os amigos são uma grande riqueza na nossa vida!